quinta-feira, 25 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25446: Convívios (990): XXXVII Convívio da CART 3494 / BART 3873, dia 8 de Junho de 2024, com concentração no antigo RAP 2, na Serra do Pilar - Vila Nova de Gaia e almoço em Matosinhos (Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista)



XXXVII CONVÍVIO CART 3494 / BART 3873

Meus amigos,
Sou a informar que o 37.º Encontro da CART 3494 irá realizar-se no dia 08 de junho de 2024 a partir das 10,00 horas no Regimento de Artilharia - 5 (ex-RAP 2) na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, local onde o Batalhão de Artilharia 3873, foi formado para servir Portugal na guerra da Guiné.

Vamos comemorar o cinquentenário da nossa chegada (03/04/1974).

Prestaremos homenagem aos mortos em combate e a todos aqueles que de alguma forma deixaram a vida terrena, junto do memorial, com deposição de uma coroa de flores.

Lembro que é do nosso conhecimento, que, 39 camaradas já deixaram a vida terrena, deixaram a saudade eterna, principalmente, das suas famílias, mas na certeza de que um dia vamo-nos encontrar novamente.

Prevemos uma Guarda de Honra por um Pelotão do Regimento.

Pelas 11,30 horas seguiremos em caravana auto até Matosinhos onde será servido um excelente almoço no “Restaurante Mariazinha”, findo o qual cada um rumará aos seus destinos, fazendo votos para que no próximo ano (2025) nos encontraremos de novo.

Apelamos à tua participação com família e amigos, contacta até ao dia 30 de maio impreterivelmente, por favor!

Contactos:
Ex-Fur Mil Trms – Luís Coutinho Domingues, 961 070 184 ou 22 013 76 18
Ex-Fur Mil Art – Manuel Benjamim Martins Dias, 965 879 408


MENU DO ALMOÇO

ENTRADAS
- Salgadinhos, rissóis, pataniscas, pata de gamba, recheio de sapateira e bolinhos de bacalhau

PEIXE
- Bacalhau à Zé do Pipo

CARNE
- Vitela assada com batata

BEBIDAS
Vinho da casa – tinto ou branco, verde ou maduro, cerveja, água e refrigerante

Bolo de aniversário, acompanhado com Flute de vinho espumante
Café.

Nota: em ref. a digestivos, quem quiser pode trazer de casa se assim o entenderem.

Preço: 30 bazucas

Um abraço a todos antigos combatentes,
Muito obrigado
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Nota do editor

Último post da série de 17 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25399: Convívios (989): 95º encontro da Tabanca do Centro: Quinta do Paul, Ortigosa, Leiria, 6ª feira, 26 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25445: Os 50 anos do 25 de Abril (13): Testemunhos - Numa Das Malas Velhas Da Minha "Fundação" (António Inácio Correia Nogueira, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 - CTIG, 1971 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487/BCAV 3871 - RMA, 1972/74)

1. Em mensagem do dia 24 de Abril de 2024, o nosso camarada António Inácio Correia Nogueira, Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 (CTIG, 1971) e ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 3487 / BCAV 3871 (RMA, 1972/74), enviou-nos este artigo da sua autoria, publicado ontem no Jornal "O Despertar", de Coimbra:


TESTEMUNHOS

Numa Das Malas Velhas Da Minha "Fundação"

Regressei da guerra colonial há 50 anos, por isso é tão significativa, para mim, esta celebração do 25 de Abril. É muito tempo para quem continua vivo, é pouco tempo para quem quer esquecer os fragores dessa guerra injusta.

Na que era a casa do meu pai, aos Olivais, tenho um compartimento, que as minhas filhas apelidam, pomposamente, “Fundação”, onde guardo tudo o que constitui resquícios das memórias e das estórias da minha vida. Muitas vezes, inopinadamente, descubro relíquias que pensava já não existirem. Esta condicionante deve-se ao facto de ser muito desorganizado mas, ao invés, muito zelador como guardador de grandes e pequenos nadas.

Recentemente tive um convite da Escola do 1.º Ciclo de Fala onde estuda, no 4.º ano de escolaridade, a minha neta Lúcia, para comunicar algo às crianças sobre o 25 de Abril, principalmente, da minha experiência sobre esse dia memorável.

Para a sua preparação, dei-me ao trabalho de revisitar esse espaço mágico, na tentativa de encontrar material que pudesse entusiasmar a pequenada e incutir-lhe um pouco da importância do 25 de Abril, na construção da deles e da minha democracia e liberdade.

Encontrei uma mala velha, muito velha, que pressenti pesada. Tive receio de a abrir e de tirar tudo cá para fora. Ela podia conter, por ventura, esconder, os meus mitos, os ritos, os medos, os entusiasmos, as raivas, os desassossegos de então, enquanto jovem.

Obriguei-me a tal. Tirei quase tudo a monte cá para fora, espalhei pelo chão e verifiquei como o seu recheio estava envelhecido, amarelado pelo tempo, mas de valor incalculável. Os papéis, as imagens e as coisas agora velhas, que fui agasalhando à medida que lhes tocava, reportavam-me, com um misto de entusiasmo e melancolia, inenarráveis, à época e idade, tão jovem, de há tantos anos!

Fui encontrar o meu camuflado da guerra colonial, coçado pelas andanças de muitos quilómetros nas terríveis matas do Belenguerez na Guiné e do Maiombe em Angola. Primeiro, olhei-o indiferente, qual trapo que na altura detestava usar. Hoje, contemplei-o com benevolência e algum bem-querer.

Achei jornais e revistas diversos: o Diário de Lisboa, a Flama, a Vida Mundial, A Capital, A República, apresentando em grandes parangonas as primeiras notícias da Revolução de Abril; nas primeiras página, sempre o mesmo protagonista, Salgueiro Maia, o meu herói.

Os discos primeiros de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Padre Fanhais e muitos outros cantores de protesto estavam por lá espalhados riscados de tanto terem tocado no meu velho gira-discos. Lá estava a Grândola do Zeca e O Depois do Adeus de Paulo de Carvalho. Estas duas canções foram as senhas para a saída das tropas revolucionárias.

As canções do Ary dos Santos e do Sérgio Godinho marcavam também a sua presença… estou a viver tudo como se tudo fosse hoje. Oiçam, oiçam, como eu, a voz e a música que saem da mala, ecoam cá fora:… só há liberdade a sério quando houver, a paz, o pão, saúde, educação, só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir… / Grândola, vila morena, terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade… / e depois do adeus e depois do amor, e depois de nós, o adeus, o ficarmos só.

A medo e sem olhar, meti mais uma vez a mão, até apalpar o fundo da mala. Agora em silêncio, arvorei o punhado, veio prestes, um livro já velhinho, mil vezes sublinhado, A Praça da Canção, edição de 1969, de Manuel Alegre e um disco datado de 26 de Abril de 1974, Caxias, Portugal Ressuscitado, com a participação de Ary dos Santos, Pedro Osório, e vozes de Grupo In-Clave, Fernando Tordo e Tonicha.

Das duas preciosidades cantei exuberante, qual menino da revolução:
(…)
Mesmo na noite mais triste,
Em tempo de servidão,
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.

(…)
[Manuel Alegre]

Depois da fome e da guerra
Da prisão e da tortura
Vi abrir-se a minha terra
Como um cravo de ternura.

(…)
[J.C. Ary dos Santos]

Não quis tirar mais nada. Os meus 81 anos estavam exaustos de memórias tão vivas, tão presentes. Não vi o que restou por lá, mas abriguei lá dentro tudo o que trouxera para fora. Voltei a fechar a mala. Fui repousá-la no lugar que lhe pertencia, até que outro a abra. O que fará com aquelas memórias? Deita-as fora? Porventura, mas elas perdurarão na vida e para além da vida, sempre, sempre, em mim.

Fui cheio de ânimo, mas preocupado, ao encontro dos meus meninos.
As crianças à volta da sala de aula levantaram os cravos vermelhos, vestiram a farda, olharam os jornais, e prometeram que serão guardiães da liberdade e da democracia para sempre
Cantei com eles, levantei a bengala e senti-me, quase miúdo como eles o são.
Obrigado meninos. Vocês são o alento do meu fim de vida.

Com beijinhos para todos e também para a vossa professora Lúcia, de que muito gostei.
Até sempre!
Viva o 25 de Abril

António Inácio Correia Nogueira.
Jornal O Despertar

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Nota do editor:

Último poste da série de 24 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25439: Os 50 anos do 25 de Abril (12): Hoje, na RTP1, às 21:29, o primeiro de nove episódios: "A Conspiração", série documental realizada por António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

Guiné 61/74 - P25444: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (40): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Minas levantadas/accionadas



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


MINAS LEVANTADAS

1970/MAIO/14:
- 1 Mina antipessoal - LEVANTADA - Areal entre Maqué e Bissorã.

1970/MAIO/19:
- 1 Mina antipessoal - ACCIONADA - Soldado milícia gravemente ferido.

1970/JUNHO/27:
- 2 Minas antipessoais - LEVANTADAS - Antiga estrada Farim/Canjaja.

1970/AGOSTO/27:
- 1 Mina anticarro reforçada com 1 - mina antipessoal - LEVANTADAS - Estrada para Bissorã.

1970/DEZEMBRO/17:
- 1 Mina antipessoal - DETECTADA PEL CCP 121 - LEVANTADA PELA CCAV 2721.

1970/DEZEMBRO/18
- 1 Mina antipessoal - LEVANTADA.

1971/FEVEREIRO/14
- 2 Minas antipessoais - LEVANTADAS.

1971/MARÇO/20
- 1 Mina antipessoal - Junto à bolanha de Jaboiá. LEVANTADA.

1971/ABRIL/08
- 1 Mina antipessoal - ACCIONADA. Soldado André, do 1.º grupo de combate. Ferimentos num pé e numa mão.
- 1 Mina anticarro S47/53 ao lado da outra foi LEVANTADA.

1971/ABRIL/26
- 2 Minas antipessoais - Em BINTA4F18. LEVANTADAS.

1971/MAIO/06
- 1 Mina antipessoal - Em BINTA 4E575. LEVANTADA.

1971/MAIO/?? -
2 - Minas antipessoais de madeira. - Região de Marecunda. LEVANTADAS.
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Nota do editor

Último post da série de 18 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25407: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (39): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Material apreendido ao PAIGC

Guiné 61/74 - P25443: 20.º aniversário do nosso blogue (11): Seleção de poemas do "corredor de Guileje" ou "corredor da morte" (José Manuel Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "O Furriel Gomes, do Pelotão de Caçadores Nativos (Pel Caç Nat 68), o Amadú, um guia e amigo do mesmo pelotão, e eu, carregado de cadernos e livros apreendidos no 'corredor da morte' [ou corredor de Guileje]. De salientar a quantidade de livros escolares em português que o PAIGC tentava fazer chegar às zonas por eles controladas".


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Um momento de descanso nas operações diárias de patrulhamento, picagem e montagem de segurança aos trabalhos da nova estrada Aldeia Formosa (Quebo) - Mampatá - Salancaur...  Lendo e escrevendo... O fur mil arm pes inf, op esp, MA, José Manuel Lopes (Josema, como poeta). 

Fotos (e legendas) : © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. É um apanhado de alguns dos melhores poemas do Josema, escritos com "sangue, suor e lágrimas", no Sul da Guiné,  no "corredor de Guileje" ou "corredor da morte", entre 1972 e 1974, em lugares tão estranhos e já esquecidos (hoje,  à distância de 50 anos) como Mampatá, Nhacobá, Colibuía, Salancaur, Uane... 

A fonte é a série "Poemário do José Manel",  por nós publicada,  entre março de 2008 e setembro de 2009 (trinta postes, muitos deles com mais de um poema). A maior parte dos poemas não têm título, e nem todos são datados.  

Esta seleção, pessoal, feita pelo nosso editor LG, é também uma forma singela de homenagear o poeta de Mampatá (e do Douro) e de  o associar aos 20 anos do nosso blogue (**),


Naquela picada havia a morte,
havia a morte naquela picada,
de vinte e quatro
foi tirada a sorte,
para um foi a desgraça,
o diabo o escolheu
ou foi Deus que o esqueceu,
havia a morte naquele caminho,
naquela picada havia a morte.


Estrada de Nhacobá, 1973

Olhos semi cerrados 
querendo ver
para além das árvores,
passo controlado,
procurando caminho
já calcado e pisado,
orelhas a pino,
a querer ouvir
além da neblina,
todos os sentidos
são poucos,
escaparão com vida?
não ficarão loucos?

Carreiro de Uane, 1972

 

O sol queima em Colibuía,
e nas tendas de campanha
sentimos o seu abraço,
logo, logo, pela manhã
e é só o começar
de uma semana de rações,
sete dias de suores,
milhares de comichões,
de bons e maus humores
e outras complicações.

Os dias lá vão passando
entre picagens,
patrulhamentos,
em cordões de segurança
à construção da estrada
que avança lentamente,
como cobra gigantesca,
pelo matagal imenso.

A semana chega ao fim,
volta-se a Mampatá,
um paraíso afinal
e o bálsamo ideal
do inferno quinzenal.

s/l, s/d


Estradas amarelas

corpos cobertos de pó,
pica na mão à procura delas,
o polegar ferrado no pau,
tac, tac, tac, tac, tac, tac,
tateando por sons diferentes,
o Fernandes com cara de mau
espeta no solo o ferrão da pica,
tac, tac, tac, tac, tac, TOC...
o calafrio,
depois o grito,
anunciando o perigo,
o grupo é mandado parar,
chega o Vilas à frente
e todos manda afastar,
de joelhos no chão,
numa simulada carícia,
afaga a terra com a mão,
com gestos simples e perícia,
vai cavando devagar:
hei-la... está aqui,
lisa preta a brilhar;
parece inofensiva, a maldita,
deita-lhe a mão e grita:
és minha, já te tenho;
volta-a,
tira-lhe o detonador
e, entre dentes, diz:
esta não,
esta não causará dor.

s/l, s/d


Pior

que o inimigo
é a rotina,
quando os olhos já não veem,
quando o corpo já não sente,
quando já se não recorda
o nosso último abraço,
e a arma se tornou
um apêndice do braço;
pior
é quando nos esquecemos
dos afagos e carícias
que uma mão pode fazer,
da mensagem e melodia
que uma canção pode conter;
pior
que as chagas nas virilhas
ou o aço a entrar no corpo,
são os delírios sem sentido,
e o procurar esquecer
as pessoas mais queridas;
pior
é o despertar
do mal que há em nós,
e é preciso pensar
e é preciso parar
e é preciso sentir
que ainda estamos a tempo.


Salancaur, março 1973


Sangue derramado

Puseste o pé em sítio errado,
um som violento, o pó levantado,
escondeu por algum tempo
teu corpo violentado.

sem pensar em outras minas
correram em teu socorro,
o sangue fugia de teu corpo
e o hélio não chegava.

tua cara, ainda de criança,
ficava cada vez mais pálida,
tudo, num silêncio angustiado.

apesar dos teus vinte anos,
a vida fugia-te em golfada.
porquê tanto sangue derramado?

s/l, s/d

Sabes o que é morrer

com a vida por viver?
sabes o que é sentir
toda uma vida a fugir?
ter de cerrar os olhos
para voltar a sorrir?
eu fecho-os
para ver as vinhas e os montes,
eu fecho-os
para ver o Douro correr,
eu fecho-os
para ver uma mulher,
eu fecho-os
para não pensar
nem me lembrar
que também posso morrer.


Mampatá, 1973

Gostava de vos falar
dos esquecidos,
dos heróis que a história
não narra,
que as viúvas choraram
mas já não recordam,
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem,
descendentes
que os lembrassem,
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai,
vítimas de guerras
que não inventaram,
em tempo que já lá vai,
falar deles é prevenir,
se bem que de nada lhes valha,
de guerras que possam vir,
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.

s/l, s/d


Calor, cansaço, suor,
saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior,
pois há ali o Corubal,
com sombras e água boa,
nem tudo é mau, afinal,
não é o Douro, eu sei,
nem o Tejo de Lisboa,
são outros os horizontes,
falta o xisto e o granito,
as encostas e os montes,
mas diga-se, na verdade,
há o Carvalho, há o Rosa,
há um hino à amizade,
há o Gomes e o Vieira
a sonhar com a Madeira,
há o Farinha e o Polónia,
gestos e solidariedade,
há o Esteves e o Pinheiro,
amigos e sinceridade,
há o Nina e até amor,
também sofrimento e dor,
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.

Mampatá, 1974

As duas faces da verdade 

a outra face da verdade
é só
o outro lado da história,
é apenas
outra maneira de sentir,
é só
o reverso da medalha,
o outro ângulo,
outra maneira de ver,
e põe em causa
a minha razão,
mas terei nunca
vergonha
desta farda que me cobre,
quero sim é entender
a outra face da verdade.

Mampatá, 1974

Ao Albuquerque (#)

O teu sangue não manchou
só a terra onde caiste,
apagou o futuro e
os filhos que não terás,
causou dor
nos que te perderam,
despertou loucuras
em noites perdidas
a recordar-te,
o teu sangue vertido
marcará para sempre
bem fundo, dentro de nós,
prometo não mais chorar,
quero rir por ti,
quero viver por ti,
quero gritar ao mundo
como foi inútil o teu sacrifício,
assim nunca serás esquecido.

Mampatá, 1973



É tempo de regressar às minhas parras coloridas

e ver a água a gelar,
esquecer mágoas e feridas,
e a todos abraçar, 
olho por cima dos ombros,
vejo a mata, lembro Amadú,
e nem tudo são escombros,
há a ilha de Bolama,
há Susana, há Varela,
as ilhas de Bijagós
e a vida pode ser bela,
se nunca estivermos sós,
houve prazer e amor
em terras de Mampatá,
senti a raiva e a dor,
saudades do lado de lá,
a distância e tanto mar,
mas não há ódio ou rancor
e um dia... vou voltar.


Bissau, 1974
____________

Nota do autor:

(*) O Albuquerque era um soldado do 3º grupo de combate. A segunda baixa da nossa companhia em Abril de 1973. Vítima de uma mina antipessoal quando o seu grupo procedia à picagem na frente de trabalhos da estrada [Quebo-Salancaur] que a Engenharia estava a abrir. 

Todos os dias se fazia a picagem até à frente de trabalhos, foram detectadas dezenas de minas antipessoal e anticarro. Era um trabalho que aqueles homens faziam com muito rigor e segurança, e que correu bem até aquele dia. 

O Albuquerque era um jovem alegre, quase sem barba, ainda hoje o vejo na vespera de Natal de 1972 a tourear uma cabra entre os arames farpados de Mampatá. O furriel Vieira um dos furriéis do 3º. grupo assistiu também à cena pois já o ouvi num dos nossos encontros referir-se a ela.

(Seleção, revisão e fixação de texto: LG)
___________

Notas do editor:

(*) 25 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25442: No 25 de abril eu estava em... (33): No regresso de uma operação no mato, já no dia 26, com a malta (que tinha ficado no aquartelamento) a gritar, eufórica, no heliporto, à nossa espera: ""Meu furriel, a guerra acabou, a guerra acabou"...A notícia tinha sido escutada na BBC por um dos um militares, rádio-amador na vida civil (José Manuel Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74)

Guiné 61/74 - P25442: No 25 de abril eu estava em... (33): No regresso de uma operação no mato, já no dia 26, com a malta (que tinha ficado no aquartelamento) a gritar, eufórica, no heliporto, à nossa espera: "Meu furriel, a guerra acabou, a guerra acabou"... A notícia tinha sido escutada na BBC por um dos um militares, rádio-amador na vida civil (José Manuel Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74)




Guiné > Região de Quínara > Buba > Julho de 1974 > A LDG carregada com o material da companhia, a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74), a sair do cais de Buba, a caminho de Bissau, depois de terminada a comissão.


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Em quase todos os aquartelamentos do CTIG, houve a seguir ao 25 de Abril de 1974, entre maio e junho, tentativas mais ou menos bem sucedidas de aproximação do PAIGC às NT, com vista ao cessar-fogo, ao fim da guerra e à reconciliação (e vice-versa, das NT em relação ao PAIGC). Nesta foto, vemos o ex-fur mil José Manuel Lopes (o poeta Josema) com um guerrilheiro do PAIGC.  Mais difícil foi, de facto,  a aproximação entre o PAIGC e os militares e mlícias guineenses que estavam do lado das NT, como foi o caso dos Comandos Africanos.

Fotos (e legendas): © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 1. O José Manuel Lopes, o Josema (pseudónimo literário), o Zé Manel da Régua (terra da sua naturalidade), vitivinicultor (Quinta Senhora da Graça),  foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, com o curso de Operações Especiais  e a especialidade de Minas e Armadilhas. 

É  uma figura, muito querida e popular, da nossa Tabanca Grande.

Soube do 25 de Abril, já no dia seguinte, quando vinha de uma operação no mato e viu um grupo  de camaradas da CART 6250/72,  à sua espera, no heliporto de Mampatá, agitadíssimos, muito eufóricos, a gritar "Meu furriel, a guerra acabou, a guerra acabou!" (*).

Como noutros lados, pela Guiné fora, a notícia tinha sido escutada na BBC, por um dos um militares, que na vida civil era rádio-amador.

2. Recorde-se que a sua  unidade esteve entre 1972 e 1974, sempre em Mampatá, subsector de Mampatá,  sector S2 (Aldeia Formosa).

A tropa vivia misturado com a população (maioritariamente, futa-fula, razão talvez por que nunca foram atacados). Não tinham artilharia, só mais tarde é que passaram a ter obus 14, que dava apoio às operações de segurança de construção da estrada Aldeia Fomorsa (Quebo)-Mampatá-Salancaur. Também aqui, em Salancaur, abriram um destacamento (arame farpado, valas e tendas).

O essencial da missão da companhia era fazer segurança aos trabalhos da nova estrada Aldeia Fomorsa (Quebo) - Mampatá - Salancaur, que ficou asfaltada antes do 25 de Abril... Tratava-se de uma obra que ia ao encontro da estratégia do Spínola, a da contra-penetração nas regiões libertadas do PAIGC. A obra parou com o 25 de Abril: o novo troço deveria ter uns 30 quilómetros.

Segundo a história que nos contou ao entrar para a Tabanca Grande (em 27 de fevereiro de 2008) (**)  , tinha sido inesperadamente mobilizado para a Guiné, já com 18 meses de tropa... Trabalhava numa empresa inglesa de vinhos (se não ero). Juntou se à malta da CART 6250, que era constituída por gente do interior/72 (do Alentejo, das Beiras, do norte)... A unidade mobilizadora foi o regimento de Vila Nova de Gaia.

Após realização da IAO, de 30jun72 a 26jul72, no CIM, em Bolama, seguiu em 29jul72 para Mampatá, a fim de efectuar o treino operacional e  a sobreposição com a CCaç 3326.  Em   Buba tiveram logo o baptismo de fogo.

Em 24ago72, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Mampatá, ficando integrada no dipositivo e manobra do BCaç 3852 e depois do BCaç 4513/72, sendo orientada, inicialmente, para a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Marnpatá-Buba e depois para a contrapenetração no corredor de Missirã, em conjugação com outras subunidades do sector. 

Em 10fev73, a CART 6250/72  destacou dois pelotões para Colibuia, no mesmo subsector, para construção do aquartelamento respectivo e execução dos trabalhos de reordenamento das populações.

Em 6set73, após substituição pela 2ª Comp/BCaç 4516/73, os pelotões recolheram à sede da subunidade, voltando, em 9nov73, a destacar um pelotão para Colibuia, a fim de integrar um destacamento, em conjunto com outro pelotão de outra subunidade, o qual substituíu a 3ª Comp/BCaç 4516/73, ali colocada do antecedente.

Em 22 e 23lu174, após ter sido substituída no subsector de Mampatá por forças do BCaç 4513/72, recolheu a Ilondé, a fim de aguardar o embarque de regresso.

 
3. Ele e a companhia dele seguiram os acontecimentos de Guileje em maio de 1973, e saíram de Mampatá para fazer segurança à CCAV 8530, restantes forças e população civil, que andaram perdidos, nesse perigoso campo de minas, que era todo o corredor de Guileje, montadas umas pelo PAIGC e outras pelas NT. 

Aliás, a sua CART 6250 foi uma das unidades que mais minas levantou, durante a guerra e no final da guerra; recorda-se que se pagava mil escudos por cada mina levantada...

Durante a sua comissão, ele próprio costumava andar com um lápis e um caderninho n0 bolso, onde nomeadamente ia escrevendo os seus poemas... Fez versos  que depois  eram acompanhados com músicas conhecidas da época, de autores contestatários como o Zeca Afonso. Chegou a fazer um poema por dia. A maioria foi destruída, já depois da "peluda"... Salvaram-se umas escassas dezenas, que fomos publicando na série "Poemário do José Manuel" (trinta postes, desde março de 2008: o último em  29 de setembro de 2009)...

Durante anos não falou da guerra colonial com ninguém... Teve conhecimento do nosso blogue, porque viu o programa Câmara Clara, da RTP Dois, a Paula Moura Pinheiro, edição de 24 de Fevereiro de 2004, que foi dedicado à literatura sobre a guerra colonial, e teve dois convidados em estúdio, os escritores Lídia Jorge (autor da Costa dos Murmúrios...) e Carlos Matos Gomes (que assina Carlos Vale Ferraz, o autor de Soldadó, Nó  Gordio, Geração  D).

Nessa edição, o fundador e editor deste blogue foi entrevistado; o nosso blogue foi amplamente divulgado; o programa passava também na RTP África e na RTP Internacional.

Ficou muito sensibilizado e até emocionado, e foi visitar o blogue de que passou a ser visita diária nessa altura...
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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25441: CCAÇ 675 - Guiné 1964 / 66 - Retalhos do nosso pós-guerra - II (Parte III e última) (Belmiro Tavares)


CCAÇ 675
Guiné 1964 / 66
Retalhos do nosso pós-guerra - II (Parte III)

Belmiro Tavares

2023/24


O Nascimento era um trabalhador incansável! Inteligente, como era, sabia trabalhar sem usar a força… bruta. Sabia, devido à sua experiência de vida, cumprir ordens com o menor esforço possível; estava sempre em, todas!

O Nascimento, quer no serviço intramuros quer no mato, ocupava sempre o primeiro lugar na secção e… foi esse o princípio do seu fim. Mais uma vez, ele colocou-se, no topo da coluna e fez explodir uma mina antipessoal – provavelmente teria uma carga de trotil acoplada.

Recordemos como aconteceu o pavoroso acidente que vitimou, irremediavelmente, o Nascimento naquele dia aziago, dia de triste memória para todos nós.

Naquele tempo, o alf. Tavares encontrava-se em Bissau, na consulta externa de otorrino (otorrinolaringologia) do hospital Militar; os seus ouvidos não resistiram a tantas e tão agressivas intempéries, acompanhadas de violentos rebentamentos de explosivos vários. Por esse motivo, o alf. Mendonça comandou, naquele dia, o 3.º pelotão. Como devem lembrar-se, ainda em Bissau, o Mendonça ficou sem o seu “pelotão de acompanhamento”; as suas esquadras de morteiro, de “breda” e de LGF foram distribuídas pelos outros três grupos de combate.

Nesse dia, a patrulha destinava-se à região de Buborim, o limite oeste da nossa zona. Pouco depois de Banhima, o pessoal saiu para a margem esquerda da estrada, enfronhando-se, entre o capim espesso, alto e encharcado, devido à chuva intensa que caía desde alta madrugada. O Nascimento entrou num “trilho” que a nossa tropa abrira, uns dias antes. O normal (todos sabiam mas, na hora, escolhe-se, regra geral, o caminho mais fácil) seria abrir nova vereda mas, devido às dificuldades ambientais e à falta de experiência da chefia, escolheu-se o caminho menos complicado, na aparência, mas… errado e perigoso. Percorridos poucos metros, ouve-se a enorme explosão… duma “bomba” potente, um rebentamento descomunal. O enfermeiro, Pereira, 1.º cabo n.º 2515, natural de Entre-os-Rios (entretanto, já falecido), acorreu à cabeça da coluna (local da explosão) e deparou com um acidente horroroso – estendido no capim, o Nascimento tinha apenas um pé; o outro não mais foi avistado. O profissional da Enfermagem, cumpriu cabalmente, o seu dever: um garrote para estancar a perda de sangue; um penso para proteger a zona afetada e soro para reestabelecer a pressão da corrente sanguínea. Naquele local e com os meios disponíveis, nada mais poderia fazer para reverter a situação.

Devemos ter em devida conta que os nossos enfermeiros levavam sempre, a tiracolo, uma bolsa enorme cheia de medicamentos e similares para enfrentar as situações mais complicadas. A maior carga seria a elevada quantidade de frascos de soro – e quantas vezes nos fizeram um jeitão do caraças! À saída do aquartelamento, aquela bolsa pesaria uns vinte quilos… bem medidos.

Um dia, em data que não conseguimos confirmar, patrulhávamos a região de Sanjalo; a CCav 487, de Farim, andaria, ali perto, como havia sido acordado. Detetámos um acampamento e os seus ocupantes foram obrigados a dar corda às sandálias; fugiram em direção à estrada de Farim. Minutos mais tarde, ouvimos, mais a sul, um forte tiroteio. A 487 vinha, estrada fora e teve de pagar as favas.

Corremos em direção à dita estrada onde, segundo informação do PCA, havia um ferido grave. Quando nos encontrámos com a tropa de Farim, ficámos aturdidos com aquela confusão; ninguém conseguia gerir a situação. Além do mais, eles traziam poucos medicamentos. Os nossos enfermeiros entraram em ação e a barafunda acabou. Parecia que os nossos (os de Binta) eram os “velhos” e os 487 aparentavam ser “os periquitos”. Nós sabíamos que o BCav 490 tinha participado na tão badalada “guerra do Como” que terá sido algo extremamente complicado. Avante!

Voltemos ao tema do nosso caro Nascimento! Via rádio, foi logo pedida a evacuação dum ferido tipo Y (épsilon); tratava-se duma espécie de código que significava um “ferido muito” grave. O heli não aparecia; o homem do rádio insistia. Passado “longo tempo” (naquela azáfama, um minuto parecia uma eternidade) informaram da base aérea de Bissau que, devido ao mau tempo, o heli não podia sair – o risco seria enorme! Decidiu-se voltar ao aquartelamento (Binta), em alta velocidade (a velocidade possível, em tais estradas). A cor do rosto do Nascimento e o seu comportamento faziam prever o pior. Em Binta, o dr. Barata poderia fazer mais um dos seus preciosos milagres. Era a esperança, a tábua de salvação daquele pessoal atormentado.

Durante o percurso, um solavanco mais forte desequilibrou o soldado que segurava o frasco do soro e a agulha “desenfiou-se” da veia, deixando o sinistrado sem receber soro. Tentaram reintroduzir a agulha no local devido mas… tal não foi possível. Mais à frente, falaremos de “veias bailarinas”.

Os homens do Rádio continuavam a insistir, nervosamente, na evacuação dum ferido muito grave. Estes chamamentos aflitivos chegaram aos ouvidos do piloto, Honório; sabendo tratar-se da CCaç 675, voluntariamente, ele decidiu rumar a Binta, numa avioneta; fez voo rasante, ao longo da costa e depois sobre o Cacheu, aterrando, um pouco mais tarde, em Binta e em segurança. Levava consigo um mecânico. Porquê um mecânico e não um enfermeiro? Certamente terá pensado que, no meio daquele temporal, o mecânico poderia ser-lhe mais útil, ou seria o que tinha, ali, à mão. Por outro lado, ele sabia que em Binta havia um médico ótimo e enfermeiros muito bons.

Na pista de Bissau, uma ambulância aguardava a chegada do Honório com o sinistrado. Após a aterragem, a transferência foi rápida mas, logo, se aperceberam que o garrote vinha desapertado e o Nascimento perdia sangue. Reapertado o garrote, a ambulância seguiu, em velocidade, para o HM 241. Entrou na estrada principal e… o inacreditável aconteceu! Um pneu “explodiu”! O condutor correu, até à base e trouxe outra viatura.

Depois de tantos “trancos e solavancos”, o Nascimento veio a falecer, nas escadas de acesso ao HM – um azar do caraças.

Parecia que o Nascimento pressentiu que chegara ao seu dia fatídico. O enfermeiro, Oliveira, contou que, naquele dia o soldado Nascimento foi dos últimos a entrar na formatura, às primeiras horas daquele dia estuporado. Normalmente, ele era um dos primeiros a chegar. Pediu desculpa pela demora e justificou-se: - “Estive a arrumar a correspondência”. Coincidências estranhas, em dia de tanto azar!

Nesse dia, 30 de julho, o Tavares encontrava-se, em Bissau, e de nada sabia. À tarde, casualmente, encontrou o Honório, na baixa da cidade, e ele informou:
- Fui, hoje, a Binta! Trouxe um ferido que faleceu, já no hospital!
- Onde o recolheste?
- Em Binta!
- Sabes o nome do sinistrado?
- Nascimento!
- Que grande porra! É meu!

O Tavares “pegou” um táxi para o HM. Logo, à entrada, encontrou o enfermeiro, Martins, o Rato, de quem falámos no texto anterior. Ele encontrava-se, tremendamente, nervoso, mesmo exaltado! Ele perguntou:
- Sabe o que aconteceu, meu alferes?
- Sei! A vítima fatal foi o pobre do Nascimento!

O Rato praguejava por todos os poros e comentou:
- Eu safei vários em estado bem mais grave! Não sei como isto pode ter acontecido. Será bom que se averigue!

Seguido pelo Tavares, o Rato percorreu uns corredores, abriu uma porta, sacudiu, bruscamente, um lençol e… ali estava o Nascimento, estendido sobre um colchão… sem um pé mas, inacreditavelmente, estava defunto.

O Tavares procurou o médico de serviço a quem solicitou explicações. Ele declarou:
- Sei, apenas, que o soldado morreu, antes de entrar no hospital; se ele aguentasse mais uns segundos e entrasse na sala de operações, não morreria. Nada mais sei! Nada mais posso acrescentar!

O Tavares retorquiu:
- Ainda ontem, eu vi um alferes entrar neste hospital com as duas pernas cortadas por uma rajada, a nível dos joelhos e não morreu. Como é que este não resistiu… apenas com a falta de um pé?

Eis a resposta do médico:
- Algo terá corrido mal entre a hora do acidente e a chegada a este hospital. Sobre isso, nada posso adiantar, porque desconheço, em absoluto. Se pretender outros pormenores, o melhor será seguir o caminho em sentido inverso.

Entretanto, em Binta, logo pela manhã, o dr. Barata, o nosso bom Galeno e o Oliveira, contactaram o HM 241 para saber novas do Nascimento. Receberam, de chofre, a notícia mais brutal e inesperada:
- O Nascimento morreu!

Seguindo o conselho do médico do hospital, o Tavares socorreu-se do piloto Honório para saber outros pormenores. O Honório, um grande amigo e admirador da CCaç 675, averiguou com os telegrafistas da base aérea como tudo tinha acontecido:
- O “teto baixo” atrasou e impediu o socorro, apesar das insistências…

O Tavares interrompeu, perguntando:
- O que é isso de “teto baixo”?

Explicaram:
- São nuvens e/ou nevoeiro espesso, rente ao solo; com teto baixo, o heli não pode sair.

Ninguém ordenou que o Honório partisse para Binta, de avioneta, mas ele era arrojado e, sabendo que a CCaç 675 estava em dificuldades, saiu por sua conta e risco.

De seguida, o Honório solicitou a um médico, ali presente, que ajudasse a esclarecer como aquilo teria acontecido. O médico fez várias considerações (inconclusivas). Por fim perguntou:
- Sabe se fizeram o “desbridamento”?
- Não sei o que é isso! – respondeu o Tavares.
- Quando não se consegue apanhar a veia para introduzir soro na circulação sanguínea, faz-se o “desbridamento”, ou seja, corta-se a pele onde a veia está mais à superfície, “pega-se a veia à mão” e introduz-se nela a agulha do soro.

Acrescentou que, devido a uma perda anormal de sangue, as veias tornaram-se “bailarinas”. Isto significa que, nessa altura, as veias “desviam-se” de tudo o que é metálico, “temendo” perder mais sangue, colocando-se em causa a resistência humana.

Anos mais tarde, o Tavares falou de “veias bailarinas” e “desbridamento” com o nosso amigo Oliveira ele respondeu que ouviu esses vocábulos, pela primeira vez, aquando do ferimento do Nascimento.

Acrescentou que o dr. Barata se preparava para fazer o desbridamento quando o Honório aterrou em Binta. Logo desistiu (não iniciou a operação) porque não havia tempo a perder e porque a avioneta e o piloto podiam fazer falta noutro local. Naquela hora, o mais importante era a entrada do Nascimento no hospital, o mais rapidamente possível.

Durante esta conversa, o Oliveira, ainda informou:
- Quando o Nascimento chegou a Binta, a primeira coisa que fiz foi proceder à troca do garrote. Eu tinha comigo um garrote diferente dos nossos; era usado pelos fuzileiros; era mais seguro e menos doloroso do que os que nós usávamos.

O Tavares perguntou:
- Era possível que o tal garrote se desapertasse, por si só, durante o voo?

Um “não” categórico foi a resposta.

O certo, porém, é que o Nascimento chegou à base aérea com o garrote desapertado e, portanto, a perder algum do pouco sangue que lhe restaria.

Acontece que todos nós sabíamos que os garrotes deviam ser “aliviados” de quarenta em quarenta minutos, aproximadamente. Depreende-se que o Nascimento o terá desapertado e… não conseguiu reapertá-lo.

Fatal!

Entre nós e sobre este tema lamentável, não houve mais conversa! Assunto encerrado! Em boa verdade, nada nos traria o amigo Nascimento de volta! Porca miséria! Ironias do destino Acabado de narrar este caso de triste memória, vamos transmitir uma notícia também amarga: - o Fernando Marques da Silva, mais conhecido por “Dentinho” (ele exibia um dente de ouro) faleceu, recentemente. Vivia na região de Lisboa e esteve ligado aos “caminhos de ferro”. Foi a esposa que nos transmitiu esta notícia tão danada.

Podemos afirmar que aquela senhora, nossa conhecida de longa data, foi extraordinária, avisando-nos da morte do marido. É bom que os familiares dos nossos companheiros, que vão “partindo” cumpram esta espinhosa missão. Acreditem! O Tavares não adivinha o quer que seja – tem de ser avisado! Caso contrário… não há notícias para ninguém.

Por vezes, ele recebe estas novas, quando telefona a convidar um companheiro para mais uma confraternização. Não esqueçam de “ordenar” à família que deve comunicar estes acontecimentos, por mais tristes que sejam, ao Tavares. Ele avisará os restantes companheiros. Seria bom que não ocorressem tais factos. Durante anos, o Dentinho foi um participante assíduo das nossas confraternizações.
Inicialmente, ele era condutor mas, devido a um acidente, ainda em Bissau, passou a atirador.
Ele era o sold. Cond. auto 2575; passou a soldado atirador com o mesmo número.

Quando, no dia 5 de janeiro de 1965, levámos a cabo a célebre incursão na península e base de Sambuiá, já no regresso, a poucos metros da picada de Guidage, entre Cufeu e Ujeque, o Dentinho caiu desmaiado, no meio do capim, com um princípio de insolação, devido ao gigantesco esforço despendido, à hora de maior calor. Foi, na verdade, uma tarefa tremendamente exigente. O fur. mil. Oliveira tratou dele e, pouco depois estava como novo.

Neste mesmo dia e quase à mesma hora – estávamos ao fim da tarde -; o Firmino Padre Eterno, sold. Cond. auto. n.º 2775, ao volante da sua GMC, detetou uma mina anticarro, naquela picada. Por pouco, não a fez explodir! Seria um acidente gravíssimo, principalmente, porque uma semana antes – 28 de dezembro de 1964 – uma mina semelhante destruiu o unimog do Malveira (sold. Cond. auto n.º 2577, Virgílio Manuel Martins de Carvalho). Provocou a morte imediata do companheiro, fur. mil. inf. Álvaro Manuel Vilhena Mesquita, três feridos graves e quatro feridos menos graves. Seria, para nós, extremamente gravoso sofrer um novo acidente semelhante, em tão curto espaço de tempo. Psicologicamente, seria ruinoso para nós mas, pior que o fator psicológico, seria o real… que na verdade não aconteceu, porque… tínhamos ao nosso lado, ao volante da GMC o Padre Eterno.

Digam lá que não é bom ter um Padre Eterno… como amigo – é sempre uma muito boa ajuda!

O Padre Eterno conseguiu parar a GMC (ficando a mina entre as duas rodas da frente daquela viatura, velha p’ra caraças, tinha apenas travão de mão. O de pé tinha ido pró maneta).

O Firmino contou:
- Eu vinha a seguir as pegadas de uma vaca, na areia; de repente deixei de ver as marcas das patas do animal; vi o rasto dum pneu e parei. O nosso fur Pedra barafustou comigo e eu disse-lhe que estava ali uma mina. Ele meteu lá o pé e… quase virou calhau, quando viu aquela “bomba”.

Retirada a viatura do local, o nosso sempre presente capitão fez explodir aquela mina danada… sem perigo para ninguém.

De seguida, alguém que gosta de se rir e fazer rir os outros, disse ao Padre Eterno, o homem do dia:
- Tu vinhas a seguir as marcas das patas da vaca mas, o que tu tiveste foi… uma “vaca”… do caraças!

Assim terminamos a nossa tarefa de hoje. Será retomada se, antes do fim do ano, surgir outro assunto que mereça ser tratado.

Nota: retomamos a escrita porque, entretanto, soubemos que o 1.º cabo n.º 2133, Filipe Manuel Ferreira dos Santos, do 3.º pelotão faleceu em 2015. A informação foi prestada pelo companheiro Ataíde (o do morteiro) que foi (quase) o dono da CP. Ele conhecia um cunhado do Filipe Santos que lhe deu a triste nova. Dessa vez a esposa “esqueceu-se” de nos avisar. O Filipe trabalhou na Lisnave mas, há anos, foi vítima de um AVC e ficou debilitado… para o resto da sua vida. Assim, perdemos mais um elemento de grande qualidade. Aquando do ferimento do 2.º sarg. Gouveia Marques, em Caurbá, o Santos passou a comandar a 1.ª secção; fê-lo com brilhantismo até à chegada do fur. mil. Andrade. Fazia uma boa equipa com o 1.º cabo João Moura, n.º 2137.

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Nota do editor:

Posts anteriores de:

22 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25425: CCAÇ 675 - Guiné 1964 / 66 - Retalhos do nosso pós-guerra - II (Parte I) (Belmiro Tavares)
e
23 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25431: CCAÇ 675 - Guiné 1964 / 66 - Retalhos do nosso pós-guerra - II (Parte II) (Belmiro Tavares)

Guiné 61/74 - P25440: Historiografia da presença portuguesa em África (420): Sim, Bissau teve uma capital de ficção antes de 1941 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Desconhecia inteiramente a existência de Bissau como capital do distrito da Guiné em 1835. Rebusquei em autores da época, como Lopes de Lima, em historiadores como Veríssimo Serrão, nenhuma referência a Bissau capital, ainda por cima no ano seguinte ao fim da guerra civil. Mas os factos documentais comprovam a nomeação. Bastou-me ler a indispensável Memória de Honório Pereira Barreto que diz verdades com punhos, que fala de um governador que não governa, de uma capital reduzida a uma fortaleza sem o mínimo de condições e a um quadro administrativo caótico, e tudo o mais que se recolhe neste artigo, acrescendo que Cacheu não se conformou com a criação da capital em Bissau e viveu-se no enigmático território guineense com dois distritos, o de Bissau e o de Cacheu durante cerca de 10 anos. Esta é a verdade dos factos, tenho que agradecer a Philip Havik a iluminação que trouxe para esta questão que era dada como inexistente.

Um abraço do
Mário



Sim, Bissau teve uma capital de ficção antes de 1941

Mário Beja Santos

Até recentemente, dava como certo e seguro de que a Guiné portuguesa jamais tivera capital até ser desafetada de Cabo Verde, o que ocorreu em 1879. Ao longo dessa década resolvera-se a questão de Bolama, houvera o dramático desastre de Bolor, Lisboa tomou a decisão de dar autonomia a um território que não possuía fronteiras precisas, a Carta Constitucional não referia a Guiné, mas mencionava Cacheu e Bissau, porque havia o sobe e desce de Praças, Presídios e Feitorias. Num livro respeitante aos cadernos de campo do professor Orlando Ribeiro, um dos coordenadores, um investigador com créditos firmados, Philip J. Havik, assumiu que Bissau obtivera o estatuto de capital em 1835. Escrevi para o blogue um artigo “Será que Bissau foi capital da Guiné antes de 1941?”, vasculhei em obras da época qualquer referência à capital, nada encontrei até que se me deparou um despacho do Visconde Sá da Bandeira datado de 29 de abril de 1858 referindo Bissau como a capital da Guiné portuguesa e residência do respetivo governador, erguendo a povoação à categoria de vila com a denominação de vila de Bissau.

Estava armada a confusão, e na altura desafiei um conjunto de investigadores a pronunciarem-se sobre a questão. Philip Havik respondeu, e do modo seguinte:
“As reformas feitas na sequência da revolução liberal em Portugal foram decididas de aplicar a reorganização administrativa por decreto de 16 de maio de 1832 à Guiné em 1834, criando uma Prefeitura de Cabo Verde e a Guiné. Por conseguinte, o distrito da Guiné transformou-se numa comarca, ainda dependente de Cabo Verde, com a sua sede em Bissau, governado por um Subprefeito. Isto foi feito através do decreto de 30 de agosto de 1835. Bissau serviu como capital da Guiné até que se tornou uma província independente com um governo autónomo em 1879, com capital em Bolama através da lei de 18 de março de 1879.”

E o investigador recomendava referências na obra de João Barreto, A História da Guiné (1418-1918), Lisboa, 1938, e no artigo de Arnaldo Brasão, A Vida Administrativa da Colónia da Guiné, publicado no Boletim Cultural da Guiné portuguesa, volume II, n.º 7, 1947. Não posso esconder a minha surpresa, eu tinha lido a importante obra de Lopes de Lima, de 1844, e não se mencionava qualquer capital em Bissau. Um artigo publicado por Teixeira da Mota e Fausto Duarte sobre as efemérides da Guiné portuguesa referia a criação da comarca da Guiné, dirigida por um Subprefeito, mas nada se mencionava sobre a capital, uma comarca é só reorganização administrativa, vinha na sequência do ambicioso projeto de Mouzinho da Silveira de alterar em profundidade a administração do território, gerando municípios, comarcas e entidades apropriadas da administração, desde a justiça à atividade aduaneira. Lendo a História de Portugal de Veríssimo Serrão, encontrei a referência à criação do lugar do governador da Guiné, com residência em Bissau.

Impunha-se, pois, apurar a densidade e a operacionalidade desta capital de que desconhecia qualquer referência. Procurei um verdadeiro tira-teimas, Honório Pereira Barreto e a sua Memória sobre o estado atual da Senegâmbia portuguesa, causas da sua decadência e meios de a fazer prosperar, Lisboa, 1843. Lendo este importantíssimo texto, constata-se que o território desta Senegâmbia tinha uma dimensão fluida, a presença portuguesa era submetida a uma permanente hostilidade e os recursos escassíssimos, como Barreto logo abre a sua introdução: “Se nesta província houvesse um Boletim de Governo aonde se estampasse os ofícios e relatórios das diversas autoridades, não me veria obrigado a escrever esta Memória, cuja matéria é tão superior a minhas forças; porque então apareceria em público o verdadeiro estado destas Possessões.” É um discurso sempre franco, duro e doloroso: “Vive-se em Senegâmbia portuguesa sem segurança alguma; a todos os momentos seus habitantes são vexados pelo gentio, fere-se e assassina-se impunemente, e em Lisboa lê-se no Diário do Governo que as Possessões Portuguesa, nesta parte, estão em ordem, e vão florescendo.”

E a sua narrativa não esconde a inexistência de poder político, da vida das instituições, enfim, o caos reina por toda a parte: “Desgraçadamente se pode dizer que nestas Possessões há um governador e comandante; mas que não há governo. O país está inteiramente desorganizado. Todos os empregados, desde o primeiro até ao último, ignoram quais são as suas atribuições, e, por consequência, quais são os seus deveres: só tratam de seus negócios, pois são negociantes. Não há lei administrativa (nem outra) que vigore, e por isso é suprida pela vontade dos governadores. A vontade deles faz a lei; o capricho executa; as paixões julgam; os rogos dos Gentios, dos amigos fazem minorar, e perdoar as penas.”

É facto que falando do concelho de Bissau, Barreto dirá que é composto da Praça de Bissau, capital do governo, do presídio de Geba, do ponto de Fá, da ilha de Bolama e do Ilhéu do Rei. E apresenta Bissau deste modo: “É uma Praça situada na ilha deste nome, e construída segundo o sistema de Vauban; mas não foi acabada. Não tem obras algumas exteriores, à exceção dos fossos já quase entulhados, e aonde se planta algodão, milho e índigo. O quarto da tropa está quase a cair, e por isso a maior parte dos soldados moram em palhosas; o indecente quartel dos oficiais aonde chove como na rua; o arruinado armazém do governo; e a pequena e destelhada capela com invocação de S. José, que é o orago da praça. O governador mora no quartel dos oficiais em uns quartos pequenos e ridículos.” Há, pois, uma capital do distrito da Guiné portuguesa, da Guiné não se conhece bem a configuração e a importância da capital é dada pelo governador que anda a comprar parcelas do território de diferentes régulos, e em todas as direções. É vila, por despacho do Visconde Sá da Bandeira, será cidade em 1914 e terá mesmo o seu primeiro plano de urbanização concebido pelo engenheiro Guedes Quinhones; o governador Vellez Caroço dar-lhe-á em 1923 o seu primeiro foral.

Philip Havik refere João Barreto e Arnaldo Brasão. Para mim, continua a ser um mistério a data de 1835. João Barreto refere que em 1851 o Governador-geral de Cabo Verde, Fortunato José Barreiros, tomara a iniciativa de unificar o governo da Guiné fixando a sua sede na vila de Bissau e escreve que a partir de 1852 deixou de existir o governo autónomo de Cacheu, passando a existir um distrito único com sede em Bissau. Alegou o governador ter tomado esta resolução para dar unidade à ação governativa. Era nomeado interinamente governador da costa da Guiné (já ouvimos falar de Possessões, de Senegâmbia e de Guiné portuguesa…) o Tenente-Coronel Alois Dziezaski com algumas competências do governador-geral. Bissau é capital do Distrito da Guiné portuguesa.

Arnaldo Brasão, no seu artigo, chama a atenção para a Guiné constituída como uma unidade administrativa, em 1834, com atribuições conferidas por legislação de 1835, referindo igualmente o papel do governador, a quem ficavam sujeitos todos os serviços públicos. “Os governos inferiores, presídios, estabelecimentos marítimos ou do interior, formavam governos subalternos que se regulavam pelo que estava determinado para o governo das praças do reino.”

As lutas entre absolutistas e liberais refletiram-se nas colónias, e adianta Arnaldo Brasão: “Cacheu, que fora o primeiro núcleo de colonização e de povoamento não poderia conformar-se com uma situação de subalternidade em relação a Bissau, que passar a ser a capital desde 1835, e por isso solicitou a sua separação que o governo cartista se apressou a satisfazer em março de 1842, passando desde então o território guineense a ser constituído por dois distritos, mas subordinados ainda ao governo de Cabo-Verde. Esta situação durou perto de 10 anos, porque em setembro de 1851 procede-se à unificação administrativa, sendo escolhido novamente Bissau para sede do governo.”

Considero totalmente corretas as observações expendidas pelo investigador Philip J. Havik, em 1835 Bissau tornou-se a capital de distrito de um território com dimensões indefinidas e dentro de um quadro que um lídimo protagonista da época, Honório Pereira Barreto, mostrou que se tratava de uma capital de ficção. Um governador sem governo, uma capital reduzida a uma fortaleza sem o mínimo de comodidades e cercada por populações hostis.

Dou como esclarecida a existência de uma capital de ficção, numa província de ficção, que passou a uma realidade depois do sobressalto de Bolama e com contornes definidos depois de a França nos ter subtraído o Casamansa, as fronteiras ficaram parcialmente definidas em 12 de maio de 1886, o governador da Guiné terá a sua capital em Bolama.


Monumento a Honório Pereira Barreto, em Bissau, em tempos coloniais
O que resta da Bolama dos tempos áureos
Um pormenor da fortaleza de S. José da Amura na atualidade
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25401: Historiografia da presença portuguesa em África (419): Será que Bissau foi capital da Guiné antes de 1941? O estado da questão (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25439: Os 50 anos do 25 de Abril (12): Hoje, na RTP1, às 21:29, o primeiro de nove episódios: "A Conspiração", série documental realizada por António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)



RTP > Série Documental (9 episódios), da autoria de António-Pedro Vasconcelos 
(Leiria, 1939-Lisboa, 2024)


A última obra de António-Pedro Vasconcelos. Conhecemos os ícones, as músicas e os locais emblemáticos do 25 de Abril 1974. Mas como surgiu a Revolução que mudou o destino de Portugal?

"A Conspiração", série documental realizada por António-Pedro Vasconcelos, é o resultado de uma meticulosa investigação que conta com depoimentos exclusivos de protagonistas que conseguiram concretizar em menos de 24 horas, o que em 48 anos muitos outros não haviam conseguido.

Desde as reuniões secretas aos personagens-chave, é-nos revelado o extraordinário processo conspirativo que começou no verão de 1973 e que culminou na madrugada de 25 Abril de 1974, com o derrube do Estado Novo e a conquista da liberdade.

O resto, como dizem, é história.

Fonte: RTP > Programas TV (com a devida vénia..:)

 A Semente Revolucionária

Episódio 1 de 9

1961 marca o início do fim do império português. É nos confins da Guiné, Moçambique e Angola, nas frentes de combate e nas quentes noites no mato, que germina a semente revolucionária.

Os capitães, revoltados com as condições em que combatiam numa guerra que não podiam ganhar, apercebem-se que a única saída é uma solução política.

E no verão de 1973, os infames decretos-lei 353/73 e 409/73, revelam ser a gota de água que faz transbordar o copo. 

Uma onda de contestação progride dentro do exército, principalmente entre os capitães do quadro permanente e é em Bissau que surge a primeira reação colectiva. Os oficiais aí destacados, fazem chegar às chefias políticas e militares uma carta assinada por 53 oficiais, contestando os decretos. Era... "a pica no elefante".

Ficha técnica: 

Título Original A Conspiração | Intérpretes: Narração: Adelino Gomes ! Realização: António-Pedro Vasconcelos | Autoria: António-Pedro Vasconcelos | Ano: 2024

Próximas emissões deste episódio:

24 Abr 2024 21:20 RTP Internacional |  24 Abr 2024 21:29 RTP1 | 25 Abr 2024 02:23 | RTP Internacional América | 25 Abr 2024 15:09 | RTP Internacional Ásia

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 23 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25426: Os 50 anos do 25 de Abril (11): Entrevista do nosso camarada, amadorense, cor art ref António- J. Pereira da Costa à TV Amadora: "É pá...A Guerra, pá...", vídeo c. 37')